terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A analista

Diferentemente de toda analista, ela não me julga. Analisa sem olhar de cima abaixo. Fala suavemente. Teima em deixar escorrer uma lágrima quando o assunto é doloroso.

Quando o paciente chega cabisbaixo, ele nem precisa falar nada. Ela o coloca, literalmente, no colo. Faz massagem em seus pés, utiliza as suas mãos firmes para retirar toda a dor dos ombros alheios, nem que seja na marra.

Ela tem cachinhos dourados, parece um anjo. Mas é mulher das fortes. Sem dúvida, uma das mais sensíveis que encontrei. Às vezes, quando vou ao seu consultório, só de me deparar com aquele doce olhar, já me sinto melhor. Em outras, fico com vergonha de admitir meu fracasso, pois sei que ela sente a decepção por mim. Ela é profissional em sentir, em carregar a cicatriz do outro, sem jamais deixar de sorrir. As derrotas dos pacientes são delas, o tempo de consulta é a entrega total. Esbanja amor, profissionalismo.

O único momento em que a vejo insegura é quando a lágrima insiste em cair. Nessa hora, ela olha pro lado, improvisa um movimento de mãos, e tudo volta para o estado da normalidade. Eu finjo não perceber, afinal, quando ela chora tenho certeza que a emoção faz parte de mim.