sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A relação com uma adolescente

Adolescência é aquela fase que a gente torce pra passar logo, na verdade, o mais rápido possível, a ponto de esquecer que ela, um dia, existiu.

Quando somos "brindados" por um adolescente em casa podemos nos considerar com uma missão diária de paciência, capacidade de ignorar, de aturar e, é claro, de dar bons conselhos, que, obviamente, serão ironizados.

A agressividade de um adolescente pode chegar a níveis absolutamente fora do controle. Quando contrariado, este ser exibe doses altíssimas de perversidade, que o incitam a humilhar, a levar a ira à pessoa mais próxima que lhe demonstra afeto, seja em forma de gesto ou de palavra.

Apesar de ter conhecimento que todos já passaram por isso, a convivência com o meu brinde adolescente em casa é cada vez mais dolorosa. O grau de irresponsabilidade, desrespeito, insensibilidade, egoísmo e arrogância me comovem cada vez mais. A cada tentativa de aproximação, ainda sou obrigada a ouvir ironias, grosserias e outras formas de repulsão.

Por outro lado, a tristeza e a dor que vêm de uma relação com um ser de 16, 17 anos nos traz o mais profundo sentimento de vitalidade. A sensação de que "isso nós já superamos", ou a certeza de que "nunca seremos assim". As constantes lágrimas dessa relação reafirmam a nossa capacidade de sentir, de identificação com um ser sensível. Ou seja, a vida, de sua forma mais intensa, nos abarca sob a forma de raiva, de tristeza, de angústia. Melhor que seja assim, pois, neste caso, a dor é uma reafirmação de que somos vivos, temos sentimento e devemos superar todas as dificuldades.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

nostalgia

Pingo de chuva no telhado
camaleão na pedra
rede balançando...

Pegar minhoca pra pescar
cortar lenha pra larreira
e pinhão pra aumentar o fogo.

Almanacão da Turma da Mônica
primaiada reunida
brigadeiro na panela

Volta no lago
a pé ou a cavalo
Pão pros patos,
fuga dos gansos
Trilha no mato,
medo das cobras.

Bolo de chocolate no fogão
Pizza do vovô de massa grossa
Meia pra aguentar o chão gelado.
Nêspera na árvore
repleta de passarinho.

Água do riacho no quintal
laranja no pé
cheio de formiga
sapo na varanda
ao anoitecer
cheiro de onze-horas...
isso é infância.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Vazio

Dizem que o vazio é repleto do nada.
Discordo.
É um vácuo profundo,
que ecoa todas
as angústias,
neuroses.

Não há lacuna,
o espaço está cheio
de dor.
Nem tente sair pela brecha,
o vazio se impregna.

Está lotado
ao extremo.
Ele lateja no peito...
Impede a entrada de ar,
expulsa qualquer esperança.

Nada mais povoado
do que o vazio
repleto de solidão.