sábado, 24 de março de 2012

Habemus Papam


A multidão precisa de alguém para confiar. Por não saberem o caminho a seguir, todos preferem depositar a sua insegurança em um líder que transmita força e estabilidade, que transforme as dúvidas em certeza, a ausência de convicção em fé.

Entretanto, quem há de querer assumir toda essa responsabilidade? Existe alguém que possa servir de guia para uma massa desacreditada e incorporar a figura de santidade mais próxima de Deus? Não há candidatos para esta dura tarefa, assim, cabe aos cardeais a escolha do próximo papa.

Esta votação, por mais justa que possa ser, transforma-se em uma cruel imposição ao eleito. Ele não tem chance de se esquivar, de escancarar seus medos, seus sonhos e, o pior, deve camuflar todas as suas inseguranças, para poder, desta forma, acalentar a multidão que o espera, como um rebanho de ovelhas que depende do seu pastor para sair do lugar.

Nesta obrigação de ser líder, ele se desespera. Percebe o quanto se aprisionou em sua própria vida. O quanto a presença de Deus e de todos os cardeais o tornava refém da solidão e de um déficit de acolhimento. A massa de pessoas de todas as partes do mundo o deixava transtornado, afinal, nada tinha a dizer a eles, a não ser que pudesse se abrir e expurgar todos os medos.

Deus havia determinado que ele deveria ser o próximo papa, porém, sua intenção não era essa. Ele queria estar nos palcos, em uma peça de teatro, longe dos fiéis e de toda a vestimenta, que mais parecia um peso. Mesmo correndo o risco de não ser perdoado pela divindade e pelos colegas, ele resolveu seguir o seu desejo - sempre reprimido - pela primeira vez na vida: virou as costas para a multidão, deu adeus ao Vaticano e se libertou das correntes. Concluiu que não nasceu para liderar e, sim, para seguir suas próprias vontades.