segunda-feira, 19 de março de 2012

Paixão adolescente

Era um casal estranho. Ela não abria a boca nem para dizer "olá". Ele, por sua vez, acabara de chegar ao Brasil, falava com um sotaque francês engraçado. Também era visivelmente tímido, até sua própria postura curvada o entregava.

Eles mal se cumprimentavam durante a hora das aulas. Se cruzavam, os olhares se encontravam, imploravam uma aproximação... No entanto, os dois se travavam e não permitiam viver aquela sintonia total de uma paixão adolescente. Todos ao redor percebiam que ali haveria uma história. Porém, o que havia - de fato - eram tchauzinhos de longe e um aceno reticente.

Um dia, os dois se encontraram em uma roda de samba. Sim, apesar de serem tímidos, os dois gostavam do ambiente regado à música e à cerveja. Quando um notou a presença do outro, criou-se um constrangimento: uma chama interna, uma felicidade contagiante, um nervosismo enorme. Todos os sentimentos, ao mesmo tempo, de maneira intensa.

Os olhares de longe estavam incomodando todos. Alguns tinham vontade de empurrá-los contra a parede; outros de, simplesmente, convidar um deles para se aproximar do outro. Depois de muitos minutos, ele tomou coragem. Se aproximou da moça, que estava sentada com suas amigas. Educadamente, disse: "Posso conversar com você?". Ela fez-se de desentendida e levantou.

Os dois, finalmente, ficaram juntos. De longe, parecia um casal perfeito, com química de sobra. Entretanto, nunca mais se uniram. Talvez, a timidez ou o medo da entrega os afastaram de vez. Poderia ser também o destino, que insistia na separação, afinal, paixão adolescente parece com o carnaval... Depois de um tempo vira cinza.