quarta-feira, 21 de março de 2012

Verdinha

Seu apelido era Verdinha. Nunca gostou de ser chamada assim, entretanto, nunca fez questão de abandonar o hábito de só usar roupa verde, motivo pelo qual foi apelidada.

O armário da jovem parecia uma floresta, com roupas de diferentes tons da mesmíssima cor. Abrir as suas portas era como penetrar no meio da mata, sentir a variedade de texturas das folhas, observar o caule e a raiz de cada uma. Para não perder muito tempo se arrumando, era mais fácil optar pela primeira camiseta que via na frente, evitando entrar no labirinto da floresta em pleno quarto.

Nunca, desde que começou a escolher as suas próprias roupas, se vestiu de outra cor. As recordações de fotos e vídeos de quando era criança pareciam montagem, afinal, quem seria aquela menina com um vestido branco ou rosa? Ela mesmo não se reconhecia.

Na rua, os seus amigos só a chamavam de Verdinha. E sua fama se espalhava por todos os lugares. No entanto, uma pessoa não se conformava com a mesmice das roupas da jovem: sua mãe. Todos os dias, o modelito era motivo de briga, afinal, "o que pensariam todos ao redor?! Que você tem apenas uma roupa!", gritava a dona da casa. A filha fingia que não ouvia e saia com um pedaço da floresta em seu corpo.

Porém, uma manhã, na hora de se arrumar, Verdinha abriu o seu armário e foi surpreendida pelo desmatamento total: não havia mais nenhuma peça de roupa! Ou melhor, havia várias, mas todas novas, das cores mais variadas possíveis, nenhuma verde. Sem saber o que fazer, a jovem começou a gritar pela mãe, que não estava em casa. Assim, ficou completamente desesperada, perdida, sem saber como faria para sair de seu quarto.

Verdinha foi obrigada a escolher uma daquelas roupas novas para ir em busca da mãe. Optou por uma peça azul, o tom que mais se aproximava do verde. No entanto, continuou em estado de choque, não conseguia se enxergar no espelho, não foi capaz de caminhar com a roupa e, muito menos, de sair de casa.

A raiz fora cortada, junto com todos os galhos e folhas. Verdinha estava desolada, perguntava-se onde foi parar toda sua mata. Depois de muito choro, ela percebeu que era apenas mais uma árvore da floresta que havia sido derrubada. Agora, havia se transformado em um galho murcho, sem vida, resquício de toda destruição.