quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Era uma vez eu, Verônica

Toda mulher é Verônica. Não mira, mas acerta no peito. Às vezes, em nosso próprio peito. Despido ou não. Coberto de branco, com jaleco, que esconde o corpo, mas exibe a ternura. O desejo é deixado de lado na hora do expediente de psiquiatra, de filha. Na hora vaga, ele não pede licença e não perde o charme. O desejo em carne, em corpo, com seios à mostra, sem parecer vulgar.

Era uma vez eu, em Recife, Verônica. Cidade de Karina. De cor, de música, de mar, frevo diariamente, antes, durante e depois do carnaval. Na vitrola, de preferência. Na pausa entre a casa e o hospital, todo mundo merece ser Verônica. Ter o direito de duvidar, de escolher e de voltar atrás no seu próprio caminho. Tirar todas as roupas e pedras que nos conduzem a uma direção.

Neste momento de reflexão é possível se deparar com a solidão. Mas, aí, surge o mar, esconderijo para os mais impuros segredos, as ladeiras de Olinda, com seus amores livres, vazios e repletos de paixão. O melhor a se fazer é não parar, seguir adiante, em busca da desconstrução.

Não importa se todos ao redor estão paralisados em seu próprio ritmo contínuo. Cada Verônica reconhece o seu próprio tempo; precisa fazer as escolhas no momento certo. Sem julgar os outros, toda Verônica quer se reconhecer e conhecer a fundo. Rir e sorrir da vida, com uma cerveja na mesa, fugindo do esquema "tá tudo padronizado", com os olhos borrados de purpurina, brilho na pele de sol do nordeste, do mar de Recife, boiando nas águas claras.

Era uma vez uma mulher. Filha, profissional, médica, paciente, amiga, humana. Uma mulher de Recife, que vive espremida entre os prédios, carros e praia. Ela vive a doçura e a sexualidade, ela vibra, respira, nada, goza. Verônica dribla a dor através da compreensão, foge dos julgamentos, olha nos olhos, aguenta um cuspe da sociedade. Sente a dor, não paralisa, cicatriza, segue em frente - firme e forte - no processo de libertação.

http://www.youtube.com/watch?v=CRUDW05w6cY&feature=related