segunda-feira, 20 de julho de 2015

Novo amor

Todo amor começa no Recife ou em Olinda. Nos becos e ladeiras, à margem do Capibaribe, na orla de Boa Viagem, o som é sempre de encontro. Há uma brisa quente que sopra paixões. Assim, até o mais descrente torna-se absolutamente louco e irracional diante um outro ser, em um sentimento que ferve.

No Recife e em Olinda, as pessoas andam nuas, por maior que seja a quantidade de roupas que elas estejam usando. Não importa. Os corpos gritam, os sentimentos fluem e abraçam até alcançar o mais profundo nó entre os peitos suados, respingados de palavras cuspidas.

Fala-se de dor o tempo inteiro, pois, nesta terra, se reconhece, sem medo, este sentimento que predomina após o amor. Todos sabem que não há tempo previsível de cura, nem receita certa. Por isso, abrem uma cachaça porreta para afastar os maus pensamentos e reunir boas companhias. Também é constante a presença de um abraço pernambucano que chega de surpresa, com mais força do que as pernas das passistas de frevo, e com a precisão das alfaias do maracatu.

Enquanto isso, a brisa continua quente, sem dar refresco. Chega a dar um nó na garganta, talvez, por saber que os dias em Pernambuco são curtos; ou os pernambucanos e seus lugares são longos e grandes demais para uma simples visita. Porém, o alívio prevalece, pois a angústia e a mágoa voam em Olinda, mais precisamente em direção ao mar. Assim, podemos rir, falar bobagem, até se pegar totalmente paralisada com o sotaque cantado da terrinha.

De repente, tudo é pausa. Tudo é a voz daquele recifense na Bodega de Véio. Não tem jeito. Sempre que venho, ali estou, e garanto que nunca havia o encontrado. E desta vez, ele estava; e eu também. Ô, sorte. Encontro marcado? Talvez. No entanto, prefiro acreditar na beleza do acaso.

Eu, vidrada com sua guia de Xangô, com sua camiseta celebrando Chico Science, e com aquele sotaque irresistível invadindo todos os cantos de Olinda, não conseguia disfarçar o encantamento imediato. Era incapaz de falar, apenas de ouvir. "Pernambucana?", perguntou. Antes que eu pudesse projetar uma resposta, ele completou: "se depender de mim, daqui você não sai". E pronto. Resolvi admitir que sempre fiz parte dali.