segunda-feira, 27 de julho de 2015

Para a avó Jandira


Ela nasceu em um reino encantado que até hoje não recebeu nome. Dizem que fica na região de Andaluzia, na Espanha. Talvez por isso, em sua casa, há flores e azulejos por toda parte. Em seu corpo, as rugas fininhas e a pele alva vão criando um caminho longo, com nascente desconhecida. A memória apagou os primeiros anos de vida daquela senhora de seus mais de 80 anos. Quando perguntavam sobre sua mãe, ou sua história de vida, ela pegava o leque florido - com firmeza - e começava a se abanar. Logo, uma lágrima rolava e encontrava um atalho no meio da pele macia, com marcas do tempo e contornos que misturam uma história oculta entre a Espanha e Brasil. No meio de tudo, estava ela, sempre atenta pra não perder mais nenhum pedaço de sua trajetória. Assim, o mecanismo de defesa foi manter o rosto sério, sempre em alerta. Olhinhos brilhantes, uma serenidade infinita, e mãos suaves de quem é capaz de abraçar o mundo - além dos filhos, netos e bisnetos-, seguindo a correnteza do tempo, à margem do rio, e pedindo a Deus para que sua fonte nunca seja capaz de secar; esteja ela onde estiver.